20 janeiro 2020

Período Cretáceo

Fauna cretácea de diferentes locais, composta por um Saltasaurus (em cima, à esquerda), dois Nyctosaurus voando pelos ares, um Styracosaurus próximo às árvores (à direita), um Tarbosaurus (no topo, à direita), um Protoceratops com suas crias (ao centro), dois Stegoceras próximos ao riacho (ao centro), um Euoplocephalus (à direita), um Maiasaura cuidando de seus filhotes (embaixo, à esquerda) e a ave Ichthyornis sobre uma rocha no leito do rio (embaixo, à direita). Em primeiro plano, uma planta angiosperma e o mamífero Deltatheridium.
Crédito: Christian Jégou / Publiphoto Diffusion / Science Photo Library

    O Cretáceo é o último período da era Mesozoica, compreendido entre 145 e 66 milhões de anos atrás. Ele sucede o Jurássico e precede o período Paleógeno da era Cenozoica. Divide-se em duas épocas: o Cretáceo Inferior (subdividido nas idades Berriasiana, Valanginiana, Hauteriviana, Barremiana, Aptiana e Albiana) e o Cretáceo Superior (subdividido nas idades Cenomaniana, Turoniana, Coniaciana, Santoniana, Campaniana e Maastrichtiana). É curioso notar que o Cretáceo, estendendo-se por setenta e nove milhões de anos, é mais longo do que toda a era atual, a Cenozoica.
    Definido pela primeira vez pelo geólogo belga Jean d'Omalius d'Halloy, em 1822, o nome Cretáceo vem do latim creta, que significa greda, cré ou giz, rocha sedimentar comum em estratos rochosos da Europa Ocidental que datam desse período. O carbonato de cálcio que compõe o giz foi depositado por escamas de cocolitóforos, algas marinhas unicelulares que prosperaram nos mares cretáceos.

Tabela do tempo geológico em escala, com destaque para o Cretáceo, suas épocas e idades.
© Mundo Pré-Histórico

    A tendência de resfriamento do final do Jurássico continuou durante os primeiros cinco milhões de anos do Cretáceo, na idade Berriasiana, quando os trópicos tornaram-se mais úmidos do que no Triássico e no Jurássico. Mas logo as temperaturas subiram novamente e mantiveram-se até o final do período, possivelmente devido a intensas atividades vulcânicas que produziram grandes quantidades de dióxido de carbono. As regiões polares, em vez de gelo, eram cobertas por florestas.
    Apesar de a Gonduana ainda estar constituída no início do Cretáceo, ela logo se dividiu: América do Sul, Antártica e Austrália divergiram da África, formando o Atlântico Sul e o Oceano Índico. Dessa forma, a Pangeia completou sua fragmentação e a formação dos continentes atuais, embora suas posições fossem substancialmente diferentes. Conforme o Oceano Atlântico se alargava, a América do Norte era empurrada para oeste e várias cadeias montanhosas formavam-se em sua margem ocidental.
    O crescimento das dorsais oceânicas deslocou a água nas bacias e fez subir o nível dos oceanos, inundando grandes áreas continentais com mares quentes e relativamente rasos. Durante boa parte do Cretáceo, o nível do mar foi o mais alto em toda a história do planeta. Ele estava 100 a 200 m mais alto do que hoje no Cretáceo Inferior e 200 a 250 m mais alto no Cretáceo Superior. Na metade do período, as águas cobriram a região central do continente norte-americano, criando o extenso e raso Mar Interior Ocidental.

Disposição dos continentes no Cretáceo.
© Dr. Ronald Blakey, Universidade do Norte do Arizona
(Com modificações)

    Diferenças de temperatura menores entre as partes do globo significaram a formação de ventos mais fracos, os quais, porém, são os responsáveis por impulsionar as correntes oceânicas. Com uma circulação menor das águas, os oceanos passavam por frequentes períodos de baixa oxigenação, revelados hoje pelas formações de folhelho negro. A estagnação das correntes profundas em meados do Cretáceo causou condições anóxicas por aproximadamente trinta milhões de anos, e a matéria orgânica sedimentada deixou de ser decomposta. Com o tempo, ela se transformou em mais da metade das reservas atuais de petróleo, localizadas principalmente nos golfos Pérsico e do México.

Vida cretácea


Vida marinha durante a idade Maastrichtiana, no Cretáceo Superior. Estão representados os amonites heteromorfos Didymoceras, no leito marinho, Baculites, com suas conchas retas, suspensos na água, e Turrilites (em cima, à direita), além do grande amonite Pachydiscus. No fundo há um Mosasaurus e, na superfície, um Tyrannosaurus segue um bando de Hypacrosaurus.
Crédito: Richard Bizley / Science Photo Library

    Nenhuma grande extinção ou explosão de diversidade separa o Cretáceo do Jurássico. Nos mares, prosperavam foraminíferos (protistas dotados de conchas), algas cocolitóforas e equinodermos, como ouriços-do-mar e estrelas-do-mar. Menos abundantes, mas igualmente importantes organismos unicelulares incluíam algas diatomáceas, radiolários e dinoflagelados, que faziam parte do plâncton. Entre os moluscos, amonites (como Baculites) desenvolviam-se ao lado de rudistas, importantes construtores de recifes no Oceano de Tétis; destacavam-se também os bivalves inoceramídeos, de distribuição global. Arraias, tubarões modernos e peixes teleósteos tornaram-se comuns, mas os grandes répteis marinhos ainda dominavam.
    Enquanto os plesiossauros sobreviveram durante todo o período, os ictiossauros viveram somente até metade do Cretáceo, extintos pelo evento anóxico do Cenomaniano-Turoniano. Nessa época também desapareceram os últimos anfíbios temnospôndilos, que haviam surgido ainda no Carbonífero, e os cinodontes não mamaliformes. No Cretáceo Superior, apareceram os mosassauros, que se transformaram nos predadores marinhos dominantes do final do período.

Orla de um mar interior quente durante o Cretáceo. Os constantes deslocamentos de sedimentos sustentavam novos grupos de organismos, incluindo os moluscos rudistas - os maiores construtores de recifes no período.
Crédito: Instituto Smithsoniano
No Mar Interior Ocidental, durante o Cretáceo Superior, o mosassauro Platecarpus, no encalço de um amonite, passa pela tartaruga Protostega. O plesiossauro Elasmosaurus vaga em águas abertas, enquanto a ave aquática Hesperornis mergulha atrás de um cardume e dois grandes peixes Xiphactinus se afastam ao fundo.
© Karen Carr

    Os mamíferos eram geralmente de pequeno porte, mas componentes relevantes da fauna. Os eutriconodontes eram comuns no Cretáceo Inferior, entretanto, na época seguinte, perderam espaço para os driolestoideos, multituberculados e térios. O grupo dos térios já havia se dividido no final do Jurássico, dando origem aos metatérios (parentes distantes dos marsupiais) e aos eutérios (parentes distantes dos placentários), os quais começavam a se diversificar bastante. Havia mamíferos terrestres e semiaquáticos, carnívoros e herbívoros.

Alguns mamíferos tinham tamanho suficiente para comer pequenos dinossauros, como o Repenomamus do Cretáceo Inferior da China.
Crédito: Mark Hallett / Stocktrek Images, Inc. / Alamy Stock Photo
Os gigantes pterossauros Quetzalcoatlus são espantados por um Tyrannosaurus.
Crédito: Julius T. Csotonyi e Alexandra Lefort / Big Bend National Park

    O registro fóssil demonstra uma alta diversidade de pterossauros durante o Cretáceo Inferior, embora eles devam ter continuado prósperos na época subsequente. Alguns dos maiores animais voadores de todos os tempos viveram no Cretáceo Superior, como os talassodromídeos, os pteranodontídeos e os azdarquídeos. Os insetos se diversificaram, destacando-se os cupins, lepidópteros (aparentados às borboletas e mariposas) e as primeiras formigas e abelhas.
    Em um bom exemplo de coevolução, as abelhas, como agentes polinizadores, auxiliaram na evolução das plantas com flores, as angiospermas, que surgiram no início do Cretáceo, mas não foram predominantes até a idade Campaniana. Entre elas estavam as primeiras gramíneas, que se difundiram no final do período. As gimnospermas (plantas com sementes nuas) continuavam bem estabelecidas, incluindo as araucárias e outras coníferas. No fim do Cretáceo, as benetitales extinguiram-se na maior parte dos locais onde cresciam.

Flora da Formação Yixian, no nordeste da China, do Cretáceo Inferior, conhecida por sua preservação excepcional de fósseis. Plantas notáveis como a angiosperma aquática Archaefructus e a antiga flor Leefructus são encontradas ao lado de plantas familiares, como coníferas e ginkgos.
Crédito: Franz Anthony

O apogeu dos dinossauros


Na região de Cruzy, sul da França, há 72 milhões de anos, titanossauros se aproximam para beber água de um rio, enquanto o anquilossauro Struthiosaurus e um trio de ornitópodes Rhabdodon observam a briga entre o abelissaurídeo Arcovenator e o crocodiliforme Ischyrochampsa. Às margens da água está um bando de enantiornites Martinavis; nos céus, pterossauros azdarquídeos; e, sobre o barranco à direita, dois dromeossaurídeos Variraptor.
Crédito: Nikolay Zverkov, 2018

    Em terra, as maiores criaturas eram os répteis arcossauros, especialmente os dinossauros, que estavam em seu estágio mais diverso: mais da metade das espécies conhecidas viveram neste período. Até meados do Cretáceo, os terópodes carcarodontossaurídeos e espinossaurídeos foram os maiores predadores terrestres, presentes na maioria dos continentes. Depois de então, foram substituídos pelos abelissaurídeos, na América do Sul, África, Índia e Madagascar, e os tiranossaurídeos, na América do Norte, Europa e Ásia.

No Níger do Cretáceo Inferior, em torno de 110 milhões de anos atrás, o espinossaurídeo Suchomimus apanha o crocodiliforme Sarcosuchus, observados pelo jovem abelissaurídeo Kryptops que bebia água.
Crédito: Julius T. Csotonyi

    Os terópodes celurossauros produziram, além dos tiranossaurídeos, uma grande variedade de dinossauros com penas, que incluíam os ornitomimossauros (parecidos com avestruzes), terizinossauros (herbívoros com longas garras nas mãos), ovirraptorossauros, dromeossaurídeos (popularmente conhecidos como "raptores") e várias formas de dinossauros voadores. Os aviales, como estes últimos são chamados, se diversificaram significativamente, dando origem aos omnivoropterigídeos, confuciusornitiformes, enantiornites, hesperornites e as primeiras aves verdadeiras.

Hesperornites eram aviales aquáticos não voadores, especializados em mergulho, como este Hesperornis indo atrás de um cardume de peixes do gênero Enchodus.
Crédito: Carl Buell

    Os saurópodes eram representados pelos titanossauros, que incluíam os maiores animais terrestres que já existiram, com até dezenas de toneladas. No final do Cretáceo Inferior, os estegossauros cederam espaço aos anquilossauros, que produziram os dinossauros blindados mais avançados. Os ornitópodes atingiram seu ápice no Cretáceo Superior com o grupo dos hadrossaurídeos, os dinossauros com "bico de pato". Também nesta época surgiram os paquicefalossauros (dinossauros de cabeça espessa) e a família mais avançada de ceratópsios, os ceratopsídeos, grandes herbívoros com chifres e folhos ósseos atrás do crânio.

Carcarodontossaurídeos Mapusaurus atacam titanossauros Argentinosaurus, na Argentina, em torno de 95 milhões de anos atrás.
Crédito: Sergey Krasovskiy, 2011
O tiranossaurídeo Gorgosaurus libratus espreita, às sombras, uma clareira de uma floresta de Metasequoia, onde se reúnem o anquilossauro Edmontonia longiceps, hadrossaurídeos Brachylophosaurus canadensispaquicefalossauros Stegoceras validum e os ceratopsídeos Chasmosaurus belli e Styracosaurus albertensis, em Montana, EUA, durante a idade Campaniana.
© Julius T. Csotonyi, 2008
À esquerda, o anquilossauro Ankylosaurus magniventris; no centro, ao fundo, o ornitomimossauro Struthiomimus altus; à direita, o ceratopsídeo Torosaurus latus; e, em primeiro plano, o ovirraptorossauro Anzu wyliei (à esquerda) e o troodontídeo Troodon (à direita) - dinossauros que viveram no oeste da América do Norte, no final do Cretáceo.
Crédito: Andrey Belov, 2016

Extinção em massa



Várzea norte-americana há 66 milhões de anos, povoada por Edmontosaurus, Tyrannosaurus e Triceratops, às vésperas do juízo final dos dinossauros.
Crédito: Davide Bonadonna

    Na idade Maastrichtiana, iniciou-se um declínio progressivo de biodiversidade, que culminaria no evento de extinção do Cretáceo-Paleógeno, há 66 milhões de anos. O estopim para essa extinção em massa provavelmente foi a colisão de um asteroide de grandes proporções contra o planeta, onde hoje é o Golfo do México, mas também é possível que fatores ambientais já estivessem transformando os ecossistemas há algum tempo.
    A queda desse corpo celeste teria levado a uma catástrofe global. Ondas de choque causaram terremotos, maremotos e erupções vulcânicas. Cinzas e poeira acumularam-se na atmosfera por meses ou até anos, bloqueando os raios solares e inibindo a fotossíntese. Grande parte dos organismos que dependem desse processo para sobreviver, como as plantas e o fitoplâncton, morreram e, consequentemente, afetaram toda a cadeia alimentar: os animais herbívoros e os carnívoros que se alimentavam destes.

Pterossauros Pteranodon presenciam a queda do corpo celeste que selou o Mesozoico - na verdade, o Pteranodon já não existia há cerca de 20 milhões de anos quando isso aconteceu.
Crédito: Mark Garlick

    Vários grupos foram exterminados, incluindo muitos invertebrados marinhos e quase todos os grandes vertebrados: pterossauros, plesiossauros, mosassauros, todos os dinossauros não avianos e muitos dos avianos também. Entre os moluscos, extinguiram-se os amonites, belemnites, rudistas e inoceramídeos. Somente cerca de 13% dos gêneros de foraminíferos planctônicos e cocolitóforos sobreviveram. O grupo moderno dos corais escleractíneos foi reduzido a um quinto de seus gêneros.
    Alguns dos animais que restaram foram os crocodilianos, as tartarugas, os lagartos, os anfíbios e os mamíferos. Os únicos dinossauros que sobreviveram foram as aves, especialmente aquelas nos continentes do sul. Elas então migraram para outras partes do mundo, enquanto se diversificavam.
    Ao todo, estima-se que 75% ou mais das espécies que habitavam o planeta desapareceram. A biodiversidade do planeta exigiu um tempo considerável para se recuperar, apesar da provável abundância de nichos ecológicos vagos. Novamente, essa foi uma oportunidade evolutiva para que novos grupos proliferassem, os mamíferos em particular. Assim, entramos na era Cenozoica, que se estende até hoje - a "era dos mamíferos".

Tyrannosaurus em seu leito de morte, próximo ao crânio de um Triceratops. Nuvens de fumaça cobrem o céu, causadas pelo impacto do asteroide.
Crédito: Christian Jégou / Publiphoto Diffusion / Science Photo Library


Fontes: Encyclopedia BritannicaLAPA - UFRRUnesp de Rio Claro e Wikipedia.

18 comentários:

  1. porque o mamute colombiano tem esse nome se ele não viveu na Colômbia?

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    1. Só um detalhe: o nome é mamute-columbiano, com U, e se refere à Colúmbia, nome histórico das Américas e também uma personificação feminima dos EUA. O mamute-columbiano viveu desde o norte dos Estados Unidos até a Costa Rica, durante a época Pleistocena.

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    2. obrigado por mi explicar. você pretende fazer anis que viveram a muito tempo mais foram extinto recentemente como o tigre da tasmânia que viveu jundo o proctodonte um canguru pré-histórico ?

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    3. Pretendo sim! Alguma hora eu falo sobre eles.

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    4. Anônimo4/2/20

      Além desses você poderia fazer também a dodô, o arau gigante, a águia de haast, a quagga, a moa gigante, o auroque, o antílope azul, e a vaca marinha de steller. Aproposito mais uma pergunta os sauropodomorfos podem ser considerados sauropodes primitivos?

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    5. Obrigado pelas sugestões.
      Na verdade, os sauropodomorfos incluem todos os saurópodes além de seus parentes mais antigos. Portanto, os saurópodes são sauropodomorfos também. As espécies mais "primitivas" são conhecidas popularmente como "prossaurópodes".

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  2. Sinceramente, esse blog é incrível, continue com o bom trabalho

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  3. Muito bom parabéns, ainda estou esperando um texto sobre o torvossauro...kkk

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  4. Ana Paula26/3/20

    Sensacional seu blog. Você irá escrever sobre o Cenozoico?

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    1. Muito obrigado. Irei sim, espero que em não muito tempo!

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  5. Sensacional seus posts. Fiz um trabalho escolar inteiros baseado em seus posts, muito obrigado!

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  6. Teria como fazer posts sobre o anzu wilyei o cryptops , o chriacus e do ptilodus ? Se possivel , acho que ja dei sugestões para te ocupar por um ano e que não resisti

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  7. Seu trabalho é incrível, li todas as eras! Uma pena não ter da era cenozóica ainda :(

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    1. Obrigado, Dayane! Logo vou lançar as postagens sobre o Cenozoico também!

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