27 janeiro 2021

Mesossauro, o réptil que voltou pra água

© James Kuether

     O mesossauro (do latim "lagarto intermediário") é um pararréptil que viveu entre 299 e 280 milhões de anos atrás (época Cisuraliana), no início do período Permiano, em um mar continental relativamente raso que cobria parte da América do Sul e do sul da África. Media em torno de 1  m de comprimento e tinha várias adaptações para um estilo de vida completamente aquático. Foi um dos primeiros répteis conhecidos que retornaram para a água depois que tetrápodes primitivos vieram a terra no final do Devoniano. Não confundir com o mosassauro.

© Mundo Pré-Histórico
(Baseado na reconstrução de Nobu Tamura)

    O mesossauro possuía um corpo hidrodinâmico, pés palmados e uma longa cauda, que pode ter sustentado uma barbatana. Ele provavelmente propelia-se pela água com as pernas compridas e a cauda flexível. Seu corpo, também arqueável, podia mover-se facilmente para os lados, no entanto as costelas espessas o impediam de se torcer. Não era um nadador ágil, movia-se vagarosamente pelas águas mais profundas do chamado Mar Whitehill-Irati. Os únicos outros tetrápodes conhecidos com quem dividia espaço eram outros mesossaurídeos (Stereosternum e Brazilosaurus), estes, porém, habitando águas mais rasas.
    A cabeça do mesossauro era pequena, mas com um focinho comprido portando longos dentes inclinados para fora (especialmente aqueles da frente), que agiam como uma peneira para capturar pequenos animais, como crustáceos. As narinas localizavam-se no topo, permitindo que o animal respirasse com apenas a parte de cima da cabeça fora d'água, como os jacarés e crocodilos. O engrossamento (paquiostose) e a compacidade (osteosclerose) vistos nos ossos do mesossauro ajudavam-no a mergulhar e atingir o fundo com maior facilidade. Os adultos também podem ter sido capazes de se mover em terra por breves momentos, mas, com cotovelos e tornozelos de movimentos limitados, teriam que se arrastar pelo solo, como uma tartaruga-marinha na praia.
    Embriões de mesossauro em estágio avançado de desenvolvimento, do tipo amniótico (envoltos por membrana amniótica), foram descobertos no Brasil e no Uruguai. Estes fósseis são o registro mais antigo de fetos amnióticos, ainda que seja inferido que essa estratégia de reprodução fosse utilizada pelos amniotas desde seu surgimento, no final do Carbonífero. Os embriões de mesossauro não eram envolvidos por uma casca calcificada, sugerindo que as glândulas do oviduto do animal - e provavelmente de todos os amniotas do Paleozoico - não eram capazes de secretar carbonato de cálcio. Isso explicaria a escassez de ovos preservados no registro fóssil daquela era. Um espécime fossilizado compreende um adulto de tamanho médio com um pequeno indivíduo em sua caixa torácica, interpretado como um feto dentro do útero, o que indica que o mesossauro, como vários outros répteis marinhos, gestava seus filhotes no ventre da mãe.

Fóssil de embrião de mesossauro enrolado dentro de uma membrana amniótica de formato elipsoide (sem casca preservada), encontrado na Formação Mangrullo, no Uruguai. A - imagem do espécime; B - desenho interpretativo; C - desenho interpretativo com cores representando o crânio (vermelho), vértebras (amarelo), costelas (azul), elementos dos membros (rosa) e gastrália (verde); D - reconstrução artística do embrião dentro do ovo. Barra de escala = 5 mm.
Crédito: PIÑEIRO et al., 2012

    O primeiro fóssil desse animal foi localizado em 1864, na África do Sul, pelo paleontólogo francês Paul Gervais. Vestígios já foram encontrados na Formação Whitehill, situada entre a Namíbia e a África do Sul, no Uruguai (Formação Mangrullo) e no Brasil (Formação Irati), nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Essa distribuição dos fósseis em duas regiões largamente separadas pelo Oceano Atlântico foi uma das evidências que levaram Alfred Wegener a postular, em 1915, a teoria da deriva continental. Sendo um animal costeiro, seria fisiologicamente impossível para o mesossauro atravessar o oceano, o que significa que a África e a América do Sul um dia estiveram unidas.

Classificação científica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Clado: †Parareptilia
Ordem: †Mesosauria
Família: †Mesosauridae
Gênero: †Mesosaurus
Espécie: †Mesosaurus tenuidens

Fóssil de Mesosaurus brasiliensis, espécie hoje considerada sinônima de M. tenuidens, da Bacia do Paraná, Brasil.
Foto: Karl Volkman, 2009
Mesossauros perseguem um amonite, tipo de presa comum nos mares do Permiano.
Crédito: Corey Ford / Stocktrek Images

51 comentários:

  1. É... eu disse que estaria esperando? kkkk!
    Vou ler a postagem agora.

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  2. Curioso saber que o mesossauro compartilhou espaço eram outros mesossaurídeos, só que eram habitantes de águas mais rasas.
    Será que isso também poderia ter sido uma forma de não competir por alimento e espaço?

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    1. Sim, é exatamente isso! Eles deviam ter nichos ecológicos diferentes. Mas o curioso mesmo é que nessa formação não foram encontrados outros tipos de tetrápodes, somente mesossaurídeos!

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    2. Isso sim é muito curioso! A quantidade de nicho ecológico deve ter sido enorme para os mesossaurídeos.

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  3. No final das contas a postagem está incrível! Muito bem explicada!

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  4. E muito interessante saber que o mesossauro foi um dos primeiros répteis conhecidos que retornaram para a água (Isso eu não sabia).

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  5. Ótima postagem! E eu pensando que ele tinha vivido na era Mezozoica.

    Também tenho duas dúvidas.

    Primeira:
    poderia citar algumas especies de repteis que viveram na era Paleozoica ( pois os sites se referem aos repteis do paleozoico mas nunca mencionam nenhuma especie em especifico, ou eu que não sei procurar hehehe ).

    Segunda:
    Os filhotes do anfíbios das ultimas eras ( Paleozoica e Mezozoica ), eles nasciam em estado de larva que nem os girinos atuais, por exemplo ?

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    1. Hahaha, o nome deve ter confundido! Mas muito obrigado!
      Alguns répteis do Paleozoico: Hylonomus, Paleothyris, Petrolacosaurus, os três mesossaurídeos mencionados nesta postagem, Scutosaurus (tem aqui no blog), Pareiasaurus, Procolophon, Captorhinus, Claudiosaurus, Coelurosauravus, Protorosaurus, Hovasaurus e muitos outros. Vou procurar trazer mais desses animais.
      Sei que os anfíbios temnospôndilos tinham um estágio larval e passavam por metamorfose, sim, pois há fósseis de girinos, jovens e adultos. Porém, acho que isso não se estende a todos os tipos de anfíbios, pois esse grupo é bastante diverso - algumas espécies atuais, inclusive, têm desenvolvimento direto.

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    2. Obrigado por responder, eu estava procurando bastante por repteis do paleozoico, vc me ajudou bastante.

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    3. E outra, as sinapsidas são repteis aparentados dos mamíferos ou elas elas se classificam simplesmente como sinapsidas e não são repteis?

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    4. Eles não são répteis. Embora os sinápsidos já tenham sido chamados de "répteis mamaliformes", esse termo não é mais aceito, pois esses animais são parentes mais próximos dos mamíferos do que dos répteis e nem descendem de répteis. São classificados simplesmente como amniotas sinápsidos.

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    5. Obrigado de novo por responder de novo.
      Mais uma pergunta...
      O elaphrosaurus era um dinossauro carnívoro ou onívoro, ele pertence a família dos noasaurideos ?

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    6. Sim, ele é um noassaurídeo e pode ter sido onívoro ou herbívoro, especulando a partir de seu parentesco com o Limusaurus.

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    7. Poderia citar as maiores especies de estegosaurideos ?

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    8. Mas se fosse para afirmar em algum livro ou trabalho, o correto seria colocar onívoro, herbívoro, ou os dois ?

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    9. O melhor seria onívoro, que já inclui uma dieta variada. Mas o fato é que ainda não temos certeza, uma vez que não conhecemos seu crânio.

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    10. As maiores espécies da família Stegosauridae são: Stegosaurus ungulatus, Stegosaurus stenops, Dacentrurus armatus, Tuojiangosaurus multispinus, Wuerhosaurus homheni e Hesperosaurus mjosi.

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  6. nossa antes eu achava que ele era muito maior kkk, otima postagem

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  7. As sinapsidas como pelycosaurus e terapsidas como gorgonopsideos teriam escamas, eu faço essas perguntas porque gosto de desenhar as especies pre historicas, e quero representa las da melhor maneira possível.

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    1. Ninguém sabe ao certo, mas acredita-se que os pelicossauros tinham escamas e que os pelos surgiram nos terápsidos. Os gorgonopsídeos podem ter tido pele lisa ou com alguns pelos (pessoalmente, acho que eles não tinham escamas).

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  8. pode falar sobre o andrewsarcus na próxima postagem

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    1. Ele já está escalado para as próximas, aguarde!

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  9. Qual sua próxima postagem e atualização, Felipe?

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    1. A próxima postagem é de um dinossauro que estão me pedindo há tempos e que não sei por que ainda não falei dele. Também estou atualizando a postagem do velocirraptor. Está praticamente pronta, só faltam alguns detalhes!

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    2. Gostei desse método de lançar uma nova postagem e atualizar outra em seguida!

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    3. Hahaha! Pois é, assim melhoro as postagens antigas e não deixo de trazer conteúdo novo.

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  10. vc pode falar , em alguma futura postagem , sobre o gigantopitecus , o maior primata que ja existiu

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    1. Vou sim! Quero aprofundar mais a parte dos primatas até chegar na evolução humana!

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  11. Falando em Velocirator! Você viu aquele estudo que mostra que o Velociraptor não caçava em bandos, Felipe?

    Link: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/historia-hoje/sem-magia-de-jurassic-park-estudo-revela-como-os-velociraptores-cacavam.phtml

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    1. Vi sim, até falei sobre isso nessa atualização. O verdadeiro velocirraptor se distancia cada vez mais de sua representação no cinema.

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    2. Quanto mais descobrimos sobre essas fantásticas criaturas, mais elas parecem distantes das suas reconstruções na mídia popular.
      Eles também parecem mais animais do que os monstros exibidos no cinema.

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    3. Isso é bem verdade, hein!

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  12. pode falar tambem sobre o castor gigante

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  13. pode falar sobre o pakicetus , o ancestral das baleias , e pode ser na próxima postaagem

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    1. Posso falar, mas vai levar um tempo. Tenho vários outros pedidos na frente.

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  14. Algum dia poderia fazer uma postagem sobre à Ornimegalonyx?

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    1. Legal, não conhecia essa espécie. Faço sim!

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    2. Valeu mano! É que aves de rapina são meus animais favoritos, águias e corujas principalmente.
      Outra pergunta. Você pretende falar da evolução humana?

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    3. Hmm, legal, então você vai gostar da nova postagem sobre o velocirraptor, Vinícius! Já viu?
      Tenho planos para falar sobre a evolução humana, sim, no futuro. Mas sinto que agora não é o momento ainda. Primeiro quero fazer uma série sobre a era Cenozoica e a evolução dos mamíferos, para dar um contexto melhor (algo que eu mesmo preciso pesquisar mais).

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    4. Eita, então essa postagem do Velociraptor deve ser incrível!
      E vou aguardar pelas futuras postagens do Cenozoico, até o dia da evolução humana!

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    5. Valeu, te vejo lá!

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  15. Anônimo10/2/21

    Pergunta, vi muita gente falando que o espinosauro viveu no brasil, só que esse espinossauro pelo que vi é o oxalia, ai fiquei com uma duvida, o sarcosuchus que também falam que viveu no brasil, é sarcosuchus mesmo ou tem outro nome?

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    1. Além dos demais espinossaurídeos identificados no Brasil (Oxalaia, Angaturama e Irritator), há dentes descobertos no Maranhão que foram referidos a Spinosaurus sp., ou seja, ao gênero Spinosaurus, mas de uma espécie indefinida. São indícios muito fragmentários, mas existe a possibilidade de que o espinossauro também tenha vivido por aqui.
      Quanto ao sarcossuco, as coisas são um pouco mais definidas: o gênero Sarcosuchus tem uma espécie africana e uma brasileira identificadas! Dê uma olhada na postagem sobre o animal.

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  16. Anônimo11/2/21

    em que países vivia o onchopristes?

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    1. Até onde vi, fósseis foram encontrados no Marrocos, nos Estados Unidos, no Brasil e na Nova Zelândia, mas, por causa dessa distribuição ampla, o Onchopristis deve ter vivido pelo mundo inteiro.

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  17. Anônimo13/2/21

    Em que países foram encontrado fosseis de bothriolepis?

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    1. Canadá, Estados Unidos, Colômbia, África do Sul, Rússia, China, Austrália e também na Europa e Antártida.

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