07 abril 2024

Torvossauro, um dos maiores terópodes do Jurássico

Crédito: Sergey Krasovskiy, 2014

    O torvossauro ("lagarto selvagem", do latim torvus, "selvagem", e do grego sauros, "lagarto") está entre os maiores dinossauros terópodes do período Jurássico, com estimativas de comprimento entre 9 e 11 m. Esse megalossaurídeo viveu entre aproximadamente 165 e 148 milhões de anos atrás, do final do Jurássico Médio (idade Caloviana) ao final do Jurássico Superior (idade Titoniana), na América do Norte, Europa e, possivelmente, África e América do Sul.
    Era um predador grande e robusto, de braços curtos, mas muito fortes, e um focinho alongado e estreito, com uma proeminência sobre as narinas. Os dentes da frente em sua boca eram bastante achatados, e os seguintes, longos. Suas vértebras cervicais e as primeiras dorsais formavam juntas relativamente flexíveis, enquanto a base da cauda era enrijecida verticalmente por vértebras com espinhas neurais altas e largas. O torvossauro aparenta ser mais avançado que o megalossauro, embora os dois sejam parentes muito próximos dentro da família dos megalossaurídeos, um grupo de terópodes tetanuros basais provavelmente relacionados aos espinossaurídeos.

© Mundo Pré-Histórico
(Baseado na reconstrução de Scott Hartman, 2014)

    Duas espécies de torvossauro são conhecidas, diferenciadas fisicamente pelo tamanho corporal e pelo tamanho e formato da maxila superior. Torvosaurus tanneri media até 9 m de comprimento e pesava em torno de 2 toneladas, estando entre os maiores carnívoros terrestres de seu tempo na América do Norte, junto com o Epanterias, estimado em 12,1 m, e o Saurophaganax, de 10,5 m (ambos podem ser sinônimos de Allosaurus). Entre suas possíveis presas estavam o camptossauro, o driossauro, o nanossauro, o Gargoyleosaurus e o estegossauro, bem como indivíduos jovens de saurópodes como apatossauro, braquiossauro, diplodoco, barossauro, supersauro e camarassauro. Também viveu ao lado dos terópodes alossauro, Tanycolagreus, Stokesosaurus, ceratossauro e ornitoleste.
    Torvosaurus gurneyi era uma espécie maior, com 10 a 11 m de comprimento e 4 a 5 toneladas, que viveu na Europa, onde certamente deambulava como o maior carnívoro terrestre de que se tem notícia no final do Jurássico. Conviveu com alossauro (espécie Allosaurus europaeus), ceratossauro, estegossauro, lourinhanossauro, lusotitã, dinheirossauro, lourinhassauro, dacentruro, miragaia, dracopelta e Draconyx. Sua cabeça media pouco mais de 1 m e tinha dentes afiados de quase 10 cm.
    Em todos os locais, o torvossauro coexistiu com outros grandes terópodes, mas eles evitavam competição direta estando adaptados a nichos ecológicos distintos. O torvossauro e o ceratossauro deviam habitar regiões próximas a cursos de água e, possuindo corpos mais baixos e sinuosos, teriam vantagem em ambientes de florestas e bosques, enquanto o alossauro, de corpo mais curto e pernas alongadas, era mais rápido e menos manobrável, preferindo planícies abertas. Os três também podem ter tido dietas diferentes. O alossauro era adaptado para partir ossos com sua mordida; o ceratossauro, incapaz de fazer o mesmo, devia se concentrar nos órgãos internos da presa; e o torvossauro, com seu crânio volumoso, dentes longos e corpo forte e flexível, pode ter sido especializado em abrir carcaças e desmembrar saurópodes excepcionalmente grandes.

Torvosaurus tanneri ataca um Gargoyleosaurus.
Crédito: PNSO

    Fósseis de torvossauro foram encontrados nos Estados Unidos, em Portugal, na Alemanha e, possivelmente, na Inglaterra, Espanha, Tanzânia e Uruguai. Em 1971, o casal de paleontólogos amadores Daniel Eddie Jones e Vivian Jones descobriu uma grande garra do polegar de um terópode na Pedreira Dry Mesa, no Colorado, EUA, e a mostrou para o paleontólogo James Alvin Jensen. De 1972 em diante, Jensen e Kenneth Stadtman excavaram essa localidade da Formação Morrison, onde dezenas de outros dinossauros foram descobertos subsequentemente. Torvosaurus tanneri foi batizado em 1979, por Peter Malcolm Galton e James Jensen. No entanto, os primeiros fósseis de torvossauro encontrados datam de 1899, quando Elmer Riggs descobriu parte de um pé esquerdo e uma mão direita nas Colinas Freezeout, no Wyoming, EUA. O material foi levado para o Museu Field de História Natural, em Chicago, onde ficou armazenado e esquecido até ser redescoberto por volta de 2010. Descrito em 2014, foi classificado como T. tanneri.
    Em 2000, novo material foi encontrado na Formação Lourinhã, em Portugal, e subsequentemente atribuído ao gênero Torvosaurus. Em 2013, ovos com embriões fossilizados seguiram o mesmo destino. Finalmente, em 2014, Christophe Hendrickx e Octávio Mateus reconheceram os fósseis portugueses como uma espécie inteiramente nova, T. gurneyi, nomeada em honra a James Gurney, autor da série de livros ilustrados Dinotopia.

Reconstrução artística de embrião de torvossauro dentro do ovo.
Crédito: PNSO, 2020

    Uma terceira espécie, cerca de 10 milhões de anos mais antiga que as outras e ainda não nomeada, foi reportada da Alemanha. Esse espécime é 10% menor que T. tanneri e, embora não se saiba se o indivíduo já havia atingido seu tamanho máximo quando morreu, é o bastante para indicar que os megalossauríneos já estavam entre os maiores predadores terrestres no Jurássico Médio. Dentes encontrados na Formação Tendaguru, na Tanzânia, em 1920, e na Formação Tacuarembó, no Uruguai, em 2020, também foram classificados como pertencentes ao gênero Torvosaurus, expandindo sua distribuição para o Hemisfério Sul.

Classificação científica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Clado: Sauropsida
Clado: Dinosauria
Clado: Saurischia
Clado: Theropoda
Clado: Tetanurae
Clado: †Carnosauria
Família: †Megalosauridae
Subfamília: †Megalosaurinae
Gênero: †Torvosaurus
Espécies: †Torvosaurus tanneri e †T. gurneyi

Torvosaurus tanneri
Crédito: Fred Wierum, 2017
Réplica de esqueleto de torvossauro no Museu da Vida Antiga de Thanksgiving Point, em Lehi, Utah, EUA, em 2016.

4 comentários:

  1. Finalmente um post, e dessa vez um post esplêndido!

    ResponderExcluir
  2. Sensacional, Felipe! Muito interessante essa questão da repartição de nicho entre esses terópodes do Jurássico americano, dessa eu não sabia. Gostaria de sugerir um artigo sobre o urso-das-cavernas.

    ResponderExcluir

Todos os comentários passam por aprovação do autor.
Comentários incoerentes ou ofensivos não serão publicados, mas críticas e sugestões são bem-vindas.