O urso-de-cara-curta ou urso-de-cara-achatada (Arctodus sp., do grego "dente de urso") é um gênero extinto de urso que viveu na América do Norte durante a época Pleistocena, entre 2,5 milhões e 11,4 mil anos atrás. Era o membro mais comum da subfamília Tremarctinae no continente. Duas espécies são reconhecidas: o urso-de-cara-curta-menor (Arctodus pristinus) e o urso-de-cara-curta-gigante (Arctodus simus), este último considerado um dos maiores mamíferos carnívoros terrestres que já existiram e o maior da América do Norte, perdendo apenas para seu parente sul-americano Arctotherium.
Como seu nome indica, o urso-de-cara-curta aparenta ter um focinho desproporcionalmente curto se comparado com seus semelhantes. Na verdade, isso é uma mera ilusão causada pelo focinho mais profundo; sua face não era mais curta que a dos ursos modernos. Essa característica é compartilhada também com o único tremarctíneo ainda vivo, o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus). Os tremarctíneos surgiram na América do Norte no começo do Mioceno, na forma do Plionarctos, gênero considerado ancestral do Arctodus.
Por volta de 2,5 milhões de anos atrás, surgiu o urso-de-cara-curta-menor (A. pristinus), que habitou da região de Nova Jérsei até o estado mexicano de Aguascalientes, passando pelo Texas e com grande concentração de fósseis na Flórida. Estima-se que chegava a 540 kg e 2,5 a 3 m de altura sobre duas patas. Viveu até aproximadamente 500 mil anos atrás. Ele pode ser o ancestral direto do urso-de-cara-curta-gigante (A. simus), que apareceu em torno de 1,6 milhão de anos atrás e tornou-se amplamente difundido há cerca de 800 mil anos. Este espalhou-se para o norte, da Flórida ao Alasca. Pesava, em média, 900 kg (porém os maiores indivíduos podiam passar de 1.200 kg) e media entre 1,5 e 1,8 m de altura nos ombros quando em quatro patas. Em pé, sua estatura atingia de 3,4 a 3,7 m, os braços esticados podendo alcançar um patamar de 4,6 m.
© Mundo Pré-Histórico |
Há uma grande variação de tamanho entre os indivíduos adultos de ambas as espécies, o que sugere que, como os ursos de hoje, o urso-de-cara-curta apresentava dimorfismo sexual, com as fêmeas menores que os machos, além de tender a ser maior nas populações mais ao norte. Os machos de A. pristinus coincidiam em tamanho com as fêmeas de A. simus. O aumento de tamanho na linhagem do Arctodus pode estar relacionado à competição com outros predadores da época.
Embora já tenha-se sugerido que ele fosse um hipercarnívoro, as características de seu crânio e dentes condizem mais com as de um onívoro oportunista, como a maioria dos ursos modernos. Naturalmente, sua dieta devia variar ao longo de sua distribuição geográfica, sendo as populações das regiões mais frias, ao norte, mais dependentes de carne para sobreviver, devido à escassez de vegetais (em uma dieta estritamente carnívora, um adulto necessitaria ingerir 16 kg de carne por dia).
Dotado de membros alongados, o urso-de-cara-curta poderia desenvolver velocidades de até 50 a 70 km/h para perseguir uma presa, mas não conseguiria manter esse ritmo por muito tempo. Sua grande massa e marcha plantígrada (isto é, que apoia completamente as plantas dos pés no chão) seriam impedimentos, além de seu corpo não ser articulado de maneira a permitir mudanças bruscas de direção. Assim, mal adaptado para ser um predador ativo, o Arctodus estava mais para um cleptoparasita, ou seja, usava seu enorme tamanho para intimidar predadores menores (lobos-terríveis, tigres-dentes-de-sabre, guepardos-americanos, leões-americanos), afugentá-los e roubar suas caças. O olfato bem desenvolvido lhe permitia detectar carcaças a quilômetros de distância.
Levando em consideração que o urso-de-cara-curta dependia de grandes mamíferos como fonte de sustento, além dos predadores capazes de abatê-los, sua extinção pode estar relacionada ao desaparecimento de outras espécies da megafauna, ao final do Pleistoceno. Nesse cenário, o urso-pardo (Ursus arctos), por exemplo, que já vagava pela América do Norte, conseguiu se adaptar melhor.
O gênero Arctodus foi cunhado em 1854, pelo paleontólogo americano Joseph Leidy, quando este descreveu a espécie A. pristinus, que significa "primitivo" em latim. O primeiro achado ocorreu na Carolina do Sul, EUA. Já os primeiros fósseis de A. simus foram encontrados na caverna Potter Creek, em Shasta, na Califórnia. Esta espécie foi nomeada em 1879, por Edward D. Cope. Na caverna Sheriden, em Wyandot, Ohio (EUA), restos de urso-de-cara-curta-gigante foram recuperados juntamente com artefatos paleoindígenas e vestígios de outros animais: cateto-de-cabeça-chata (Platygonus compressus), alce-veado (Cervalces scotti) e castor-gigante (Castoroides ohioensis).
Classificação científica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Família: Ursidae
Subfamília: Tremarctinae
Gênero: †Arctodus
Espécies: †Arctodus pristinus e †A. simus
Esqueleto fossilizado de urso-de-cara-curta-gigante montado no Museu Field de História Natural, em Chicago, EUA. Ao fundo, é possível ver o esqueleto de um mastodonte, animal com o qual conviveu. Crédito: John Weinstein, 2006 / Field Museum Library / Getty Images |
Arctodus simus © Roman Uchytel |
Fontes: Demythologizing Arctodus simus, the 'short-faced' long-legged and predaceous bear that never was (Figueirido et al., 2010), Florida Museum, PBS Eons, Prehistoric Wildlife e Wikipedia.
What? Tu acha que eu estava esperando por essa? Jamais!!! Nunca que eu iria imaginar que sua próxima postagem seria do Arctodus. Mas, como sempre ela fica show, devo dizer que todos os seus novos modelos de postagem estão impecáveis.
ResponderExcluirMuitíssimo obrigado! 😃
ExcluirConclusão : o Arctodus era um Tiranossauro se fosse um mamífero kkkkk . Nunca vi uma postagem tão detalhada assim , desmontando a ideia de um urso mortal gigantesco para um grande mamífero oportunista e pouco ágil . O próximo precisa ser o Tiranossauro , está na hora de acabar com a ilusão de rei dos dinossauros que há mais de 10 anos foi desmentida 🙂 !
ResponderExcluirObrigado, Lorenzo! Sim, vou atualizar a postagem do tiranossauro quando puder.
ExcluirEm suma , agora sei de tudo sobre o Arctodus em 5 minutos e já posso entregar minha ideia pro Discovery 👏👏👏 .
ResponderExcluirUau! Kkk, valeu!
ExcluirVelho, por mais que o Arctodus simus seja um onívoro oportunista, provavelmente não havia nada em seu caminho quando ele decidia roubar a carcaça de seus competidores. Quem iria querer competir com um urso de 1 tonelada? Kkkkkk!
ResponderExcluirkkkkk
Excluire alias seu vídeo esta muito bom
Excluiresperei muito kkkkkkk muito bom
ResponderExcluirValeu!
Excluirfala sobre o equus
ResponderExcluirEsse gênero tem uma história evolutiva bem complexa, mas algum dia eu falo sobre ele, sim.
Excluirqual será sua próxima postagem ?
ResponderExcluirÉ uma matéria especial, mas não tenho como dar pistas sem revelar o que é, e isso estragaria a surpresa...
Excluirisso deve ser algo bem diferente e misterioso
Excluirn faço ideia
um dia fala sobre o sharovipterix
ResponderExcluirQuero muito falar sobre ele!
Excluirmeu odin, esse animal é estrondosamente assustador
ResponderExcluirFala sobre o Amphicoelas o suposto maior dinossauro e se vc for fazer deixa atento q ele n e muito conhecido pela ciência
ResponderExcluirSim, vou fazer um dia!
ExcluirExcelente matéria, parabéns! Você mencionou o sul-americano Arctotherium, que inclusive é maior que o Arctodus. Tem previsão de uma postagem sobre ele?
ResponderExcluirObrigado! Ainda não tenho previsão pra ele, mas vou fazer, sim.
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