Anhanguera, um antigo espírito voador

Crédito: Daniel Eskridge, 2013

Atualizado em julho de 2021

    O anhanguera ("diabo velho", do tupi añang, "espírito temível", e wéra, "aquilo que se foi") é um pterossauro pterodactiloideo de meados do período Cretáceo, que viveu no nordeste do Brasil e no Marrocos, entre 112 e 92,5 milhões de anos atrás (idades Albiana e Cenomaniana). Alimentava-se de peixes, os quais pescava sobrevoando os mares quentes e rasos que separavam as duas regiões, muito mais próximas do que hoje em dia. Atingia cerca de 1,2 m altura, 23 kg e uma envergadura entre 4,6 m (espécie Anhanguera blittersdorffi) e mais de 5 m (Anhanguera piscator).

© Mundo Pré-Histórico
(Baseado nas reconstruções de SassyPaleoNerd, 2019, e Julio Lacerda)

    Relacionado ao ornitoqueiro, hoje o anhanguera é, no entanto, classificado em sua própria família, Anhangueridae. Como vários de seus parentes, tinha cristas arredondadas na ponta de suas maxilas superior e inferior, entretanto distingue-se do ornitoqueiro e do tropeógnato, por exemplo, por algumas diferenças sutis: sua crista superior é menos pronunciada e tem uma posição mais afastada da ponta do focinho; outra crista típica, na parte posterior do crânio, era reduzida a uma pequena projeção obtusa.

Anhanguera blittersdorffi
Crédito: Saúl Velasco, 2019

    Sua boca era repleta de dentes cônicos, curvos e bem espaçados, orientados para a região frontal, onde se localizavam os maiores deles. O focinho era afunilado, mas terminava em uma expansão horizontal em forma de colher, a qual seria uma adaptação para apanhar os peixes. Grandes órbitas indicam que o anhanguera tinha grandes olhos e uma visão aguçada, sentido importante para navegar pelos ares e localizar presas. Os olhos eram suportados por anéis ósseos - os anéis escleróticos, como são chamados, também são encontrados em alguns vertebrados atuais. O formato da caixa craniana demonstra que seu cérebro era volumoso e que a região cerebral responsável pela visão era expandida, bem como uma região do cerebelo chamada flóculo, que nas aves ajuda a coordenar as informações sensoriais necessárias para o voo. A estrutura do ouvido interno, órgão também associado ao equilíbrio, revela que a cabeça do animal era mantida em uma posição angulada em relação ao chão.

    O gênero Anhanguera foi descrito em 1985, por Diógenes de Almeida Campos e Alexander Kellner. Duas espécies são consistentemente reconhecidas, ambas da Formação Romualdo, entre os estados brasileiros do Ceará e Pernambuco. A. blittersdorffi, a espécie-tipo, é baseada em um crânio completo sem a mandíbula, originalmente depositado na coleção particular de Rainer Alexander von Blittersdorff. A. piscator ("pescador" em latim) foi descrita em 2000 por Kellner e Yukimitsu Tomida, a partir de um esqueleto quase inteiro de um indivíduo juvenil - o pterossauro mais completo conhecido até então para a Bacia do Araripe. Em 2020, parte de uma mandíbula de A. piscator foi reportada no grupo geológico Kem Kem, no Marrocos.

    Anhanguera santanae, encontrada na Formação Santana, tinha uma crista bem menor no bico que A. blittersdorffi. Originalmente atribuída ao gênero Araripesaurus, por Peter Wellnhofer em 1985, foi movida para Anhanguera em 1990, por Kellner. Anhanguera robustus, assim chamada por causa de sua mandíbula robusta, foi descrita em 1987, também por Wellnhofer, no gênero Tropeognathus, mas reconsiderada uma espécie de anhanguera em 2013.

Classificação científica:

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Clado: Sauropsida

Ordem: †Pterosauria

Subordem: †Pterodactyloidea

Família: †Anhangueridae

Subfamília: †Anhanguerinae

Gênero: †Anhanguera

Espécies: †Anhanguera blittersdorffi, †A. piscator, †A. araripensis?, †A. robustus? e †A. santanae?

Anhanguera piscator
Crédito: Jaime de la Torre Naharro, 2021

Reconstrução de esqueleto de anhanguera no Museu da Vida Antiga, em Lehi, Utah, EUA.
Crédito: guzzlordnut, 2022

Fontes: Contribuição ao conhecimento dos pterossauros do Grupo Santana (Cretáceo Inferior) da Bacia do Araripe, Nordeste do Brasil (PINHEIRO, Felipe L., 2014), Dinossauros & Afins, Natural History Museum, New Dinosaurs, Os répteis voadores do Cretáceo brasileiro (KELLNER, Alexander W. A., 1989),  Preparação, descrição de um novo crânio de pterossauro (Reptilia, Archosauria) e considerações sobre a morfologia craniana dos Anhangueridae (BANTIM, Renan A. M., 2013), Pteros e Wikipedia.