Edaphosaurus pogonias e o pequeno anfíbio Platyhystrix, que, apesar de também possuir vela, não é um animal relacionado. Crédito: Dmitry Bogdanov, 2007 |
O edafossauro é um gênero de sinápsido primitivo que viveu na América do Norte e oeste da Europa entre 303,4 e 272,5 milhões de anos atrás, do final do período Carbonífero (idade Gjeliana da época Pensilvaniana) até meados do Permiano (idade Roadiana da época Guadalupiana). Seu tamanho variava de 50 cm a 3,5 m de comprimento, dependendo da espécie (a maior era Edaphosaurus cruciger), e chegava a mais de 300 kg. Foi um dos primeiros tetrápodes herbívoros de grande porte (tetrápodes são os vertebrados com quatro membros). Especializado em se alimentar de vegetação baixa, acredita-se que evoluiu de ancestrais menores e insetívoros, a exemplo do Ianthasaurus.
O nome do animal, junção do grego edaphos ("chão" ou "pavimento") e sauros ("lagarto"), significa "lagarto com pavimento" e refere-se às placas dentárias que ele possuía no fundo da boca. Pequenos dentes em forma de pino formavam aglomerados em cada lado de ambas as maxilas e eram usados para esmagar a matéria vegetal. Já os dentes das arcadas dentárias possuíam pontas serrilhadas, próprios para cortar folhagens. Sua mandíbula profunda e forte devia ancorar músculos poderosos, que a movimentavam para frente e para trás, permitindo, assim, processar as plantas mais duras e fibrosas. A cabeça do edafossauro era curta e larga, com um perfil triangular, notavelmente pequena em relação ao corpo - porém adequada a suas preferências alimentares. Condizentemente, as vértebras cervicais eram reduzidas em comprimento, mas as dorsais eram massivas. Suas costelas formavam uma caixa torácica ampla, sua cauda era alta, e os membros, curtos e robustos. Como a maioria dos animais herbívoros, o edafossauro provavelmente tinha um grande intestino e contava com bactérias simbióticas que ajudariam a digerir celulose e outros materiais vegetais indigestos.
A característica mais proeminente da criatura, no entanto, ainda é a vela em suas costas, que percorria toda a extensão do pescoço até o quadril e era formada por longas espinhas neurais, conectadas, em vida, por tecidos. Essas extensões das vértebras possuíam projeções ósseas (processos) laterais. A função mais provável da vela era exibição, seja para diferenciar os indivíduos de diferentes espécies (cada qual com seu formato ou padrão de cores), para distinguir um edafossauro de outros gêneros de sinápsidos (como o ofiacodonte, o secodontossauro e o dimetrodonte, estes dois últimos também possuindo vela dorsal) ou para atrair parceiros. A coloração da estrutura poderia, inclusive, se tornar mais intensa em determinados períodos, como na época de reprodução. Ela também poderia servir para regular a temperatura do corpo, considerando o animal como pecilotérmico (de "sangue frio").
Neste caso, quando o edafossauro precisava se aquecer, ele se posicionaria de lado para o sol, para que o sangue que circulava pela vela absorvesse calor mais rapidamente; quando a temperatura corporal estava adequada, ele voltaria somente a fina borda da vela para o sol; e, quando precisava se arrefecer, permaneceria na sombra e bombearia sangue para a vela, a fim de irradiar o calor excedente - as barras transversais das espinhas neurais gerariam turbulência no fluxo de ar, acentuando o efeito de resfriamento. Contudo, um estudo da microestrutura óssea das espinhas lançou dúvidas sobre essa ideia. Outras hipóteses consideram a vela como uma distração para predadores, desviando a atenção de áreas mais críticas como a cabeça e o pescoço, ou ainda como uma estrutura para reserva de gordura e cálcio, embora pareça ter sido frágil demais para isso. Em última análise, seu papel preciso ainda é motivo de debate, e ela pode ter servido a mais do que um único propósito.
Uma série de outros sinápsidos da mesma época também desenvolveram velas dorsais, incluindo o grande carnívoro dimetrodonte, aqui mostrado atacando um edafossauro. Apesar da semelhança, a vela do animal herbívoro possui espinhas mais baixas e sólidas, com os típicos processos laterais. © James Kuether, 2016 |
O paleontólogo americano Edward Drinker Cope descreveu o edafossauro pela primeira vez em 1882, baseado em um crânio esmagado e o lado esquerdo de uma mandíbula, encontrados nos Leitos Vermelhos (Red Beds) do Texas, EUA. Ele notou, em particular, o denso corpo de dentes em ambas as maxilas, ao qual se referiu como "pavimento dentário". A espécie recebeu o nome Edaphosaurus pogonias (o epíteto específico significa "barbado" em grego, devido ao queixo curvado para baixo). Cope não fazia ideia da grande vela do animal, uma característica até então só conhecida no dimetrodonte. Em 1886, ele criou o gênero Naosaurus ("lagarto navio") para restos de um esqueleto muito semelhante ao do dimetrodonte, mas que possuía processos transversais nas espinhas que ele comparou com as vergas do mastro de um veleiro - chegou até a especular que o animal usava a vela para velejar pelos lagos permianos. Após a inclusão de três espécies nesse novo gênero, em 1907 foi sugerido que o crânio de edafossauro completava os esqueletos de naossauros, mas isso só foi confirmado com a identificação da espécie Edaphosaurus novomexicanus, em 1913, a partir de um exemplar razoavelmente completo.
Fósseis de edafossauro foram encontrados nos estados americanos do Texas, Oklahoma, Ohio, Novo México e Virgínia Ocidental. Outros fragmentos atribuídos ao gênero vieram da Saxônia, leste da Alemanha. O grande número de espécimes conhecidos torna o edafossauro um dos sinápsidos primitivos herbívoros mais bem representados. Cinco espécies já foram identificadas, todas diferenciadas pela altura da vela, curvatura das espinhas neurais e forma das barras transversais. Elas demonstram uma tendência de diminuição no número de processos laterais nas espinhas ao longo do tempo, acompanhada de um aumento em tamanho e elaboração dessas estruturas.
Classificação científica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Clado: Synapsida
Clado: Sphenacomorpha
Família: †Edaphosauridae
Gênero: †Edaphosaurus
Espécies: †Edaphosaurus pogonias, †E. cruciger, †E. novomexicanus, †E. boanerges e †E. colohistion
Interresante, depois pode fazer sobre o Dimetrodonte?
ResponderExcluirObrigado, Leandro. Já tem um artigo sobre o dimetrodonte (a postagem contém os links), mas acho que está precisando de uma atualização...
ExcluirNossa, finalmente você voltou! Essa postagem sobre o Edaphosaurus meio que me pegou de surpresa, já que eu fui dar uma olhada na Internet e quando entrei no seu blog sem querer estava essa maravilha, kkkk!
ResponderExcluirAdorei a postagem, ficou muito bem detalhada e explicou várias coisas que eu não sabia sobre esse sinápsido. Curioso que as velas estejam presentes no organismos há muito tempo na história da vida, e se apareceu diversas vezes é porque ela é útil de alguma forma.
Valeu, Vinícius! Estava esperando você comentar, kkkk.
ExcluirO que me chama mais atenção ainda é a quantidade de espécies diferentes com vela que conviveram nessa época, não só sinápsidos de duas famílias distintas, mas até um pequeno anfíbio! Com certeza tinha alguma função importante.
Pelas regras da evolução, se surgiu mais de uma vez para alguma coisa ela serve. Com certeza essas velas eram úteis para os bichos, caso contrário não surgiria tantas vezes.
ExcluirSim, certamente.
ExcluirVelho, uma coisa que me chama bastante atenção nos herbívoros é também o desenvolvimento dessas placas para mastigação que eles tinham. O Edaphosaurus com esse "pavimento" na boca, e ainda tem o Tiarajudens com os dentes palatais, ver a boca desses bichos em vida não devia ser uma coisa muito bonita.
ResponderExcluirDevia ser bem estranho mesmo
ExcluirUma pergunta , pq n tem aquelas imagens de comparação com o homem?
ResponderExcluirTem sim, olhe bem! 👀
ExcluirPostagem no dia do meu aniversário ?? Eita !
ResponderExcluirO edaphosaurus era bem esquisito , principalmente pelos membros desproporcionais . Aliás , qual a explicação para tantos animais desproporcionais nos meados do fim paleozóico e início mezozóico ( como echrinosuchus ) 🤔 ?
Meus parabéns, então! Sim, do Paleozoico até o Triássico houve muitas criaturas esquisitas mesmo. Acho que, por ser ainda o início do desenvolvimento dos vertebrados terrestres, a evolução estava fazendo vários "experimentos", por assim dizer. Obviamente, muitos não deram certo.
ExcluirAliás, fiquei curioso sobre o animal que você mencionou, mas não encontrei nada. Deve estar escrito errado.
Posso fazer uma sugestão ? Que tal uma postagem sobre a etimologia dos animais pré-históricos ? Como por exemplo as palavras que formam seus nomes como o do Platyhystrix
ResponderExcluirAlguma hora posso fazer algo assim. Obrigado pela sugestão!
ExcluirFelipe, atualiza mais as postagens sobre os dinossauros mais famosos como as postagens do Tiranossauro, Triceratops, Anquilossauro, Estegossauro, Velociraptor, Stenonychosaurus (Troodon), Alossauro, Espinossauro e Giganotossauro, pois assim as postagens vão ter mais informações sobre esses dinossauros
ResponderExcluirPode deixar, Leandro! Aliás, as postagens do velocirraptor e do giganotossauro já estão novinhas!
ExcluirVou adimitir que nunca ouvi falar desse sinapsído mas esse artigo me fez ficar mais curioso sobre esses animais!
ResponderExcluirTem artigos de outros sinápsidos aqui no blog. Dê uma olhada!
Excluirtem animais marinhos
ResponderExcluirSim, uma porção deles, entre peixes, anfíbios, répteis, mamíferos e outros tipos de animais!
ExcluirEu achava que era o parente mais próximo do dimetrodon.
ResponderExcluirAmbos são sinápsidos esfenacomorfos, mas primos distantes.
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