14 setembro 2024

Tiktaalik, o elo entre os peixes e os tetrápodes

© Dotted Yeti, 2022

    O Tiktaalik ("grande peixe de água doce" na língua inuctitute) é um gênero de peixe de nadadeiras lobadas (sarcopterígio) que viveu há 375 milhões de anos, durante a idade Frasniana do Devoniano Superior, no norte do Canadá, que na época se encontrava próximo ao equador e possuía clima quente. Exibindo muitas características semelhantes às dos tetrápodes (os vertebrados de quatro membros), ele representa a transição entre peixes como o Panderichthys e tetrapodomorfos primitivos, como o acantostega e o ictiostega. O Tiktaalik era um grande peixe, estimado entre 1,25 e 2,75 m de comprimento (com base em vários espécimes), que devia se alimentar de pequenos animais nas águas rasas de rios e pântanos.

© Mundo Pré-Histórico

    Ainda mantinha alguns traços dos peixes ósseos, como escamas, nadadeiras raiadas e arcos branquiais bem desenvolvidos, estes últimos indicando que se tratava de uma espécie predominantemente aquática. Por outro lado, possuía notáveis características tipicamente encontradas em vertebrados terrestres. Suas nadadeiras incomuns, em forma de cutelo, possuíam ossos internos robustos que lhe permitiam usá-las como apoio e sustentar o corpo em águas rasas. Uma das adaptações mais significativas é a região opercular do crânio bem reduzida, não possuindo, entre outros, um opérculo, que na maioria dos peixes protege as brânquias. Outra característica importante é o tamanho da parte anterior do crânio, que no Tiktaalik é mais longa do que nos demais peixes. Tais alterações podem estar relacionadas a mudanças na alimentação e na maneira de respirar. O crânio do Tiktaalik já possuía estruturas internas que possibilitariam sustentar o animal em terra firme e respirar ar, um passo chave na transformação do crânio que acompanharia nossos distantes ancestrais na mudança para a vida fora d'água.
    O Tiktaalik tinha fileiras de pequenos dentes afiados na boca e uma mandíbula bem desenvolvida, adequados para capturar presas. Sua cabeça era triangular e chata, semelhante à de um crocodilo, com os olhos no topo - permitindo-lhe enxergar acima da superfície da água enquanto permanecia submerso - e, possivelmente, um par de espiráculos, aberturas localizadas atrás dos olhos que normalmente levam ao sistema respiratório, sugerindo que a criatura talvez tivesse pulmões primitivos. A ausência do opérculo deu uma maior possibilidade de movimentação para a cabeça, que também era separada da cintura escapular, o que faz do Tiktaalik o mais antigo peixe conhecido a possuir um pescoço.

Reconstrução digital do esqueleto conhecido do Tiktaalik.
Crédito: Thomas Stewart, Universidade Estadual da Pensilvânia, 2024

    Seu corpo era alongado e achatado e contava com cerca de 45 pares de costelas, que se conectavam à cintura pélvica por meio de ligamentos de tecidos moles. Essa estrutura inovadora ajudaria a sustentar o corpo ao sair da água. A pelve, como nos tetrápodes, tinha o tamanho aproximado da cintura escapular, muito maior do que em outros peixes, apesar de ainda ser uma estrutura simples, composta por um único osso de cada lado. Ela sustentava nadadeiras pélvicas bem desenvolvidas e quase tão longas quanto as nadadeiras peitorais. Provavelmente, nadadeiras dorsais estavam ausentes. Esse conjunto de nadadeiras fortes e flexíveis poderia ser usado para caminhar no leito dos rios e se arrastar por águas rasas e lamaçais. Eventualmente, o Tiktaalik poderia até se aventurar em terra por curtos períodos, de maneira similar aos atuais peixes oxudercíneos (Oxudercinae), conhecidos como saltadores-do-lodo.
    Os primeiros fósseis de Tiktaalik foram encontrados em 2004, na ilha Ellesmere, no território de Nunavut, Canadá. Eles consistiam em três esqueletos, desenterrados de rochas da Formação Fram. A única espécie catalogada, Tiktaalik roseae, foi descrita em 2006, pelos paleontólogos Edward Daeschler, Neil Shubin e Farish Jenkins, e rapidamente reconhecida como uma espécie de transição entre peixes e tetrápodes. Em 2014, após preparação do fóssil, foi descrita a cintura pélvica do animal. Mais de 60 espécimes de Tiktaalik já foram descobertos, mas o holótipo (aquele no qual foi baseada a descrição da espécie) permanece como o mais completo e estudado. Embora o animal possa não ser o ancestral direto dos tetrápodes atuais, serve como evidência de que formas intermediárias entre tipos diferentes de vertebrados já existiram um dia.

Classificação científica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Clado: Sarcopterygii
Clado: Tetrapodomorpha
Clado: Elpistostegalia
Gênero: †Tiktaalik
Espécie: †Tiktaalik roseae

Reconstrução em tamanho real e réplica do fóssil holótipo de Tiktaalik.
Crédito: Field Museum, 2021
Crédito: Flick Ford

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todos os comentários passam por aprovação do autor.
Comentários incoerentes ou ofensivos não serão publicados, mas críticas e sugestões são bem-vindas.