Tiranossauro, o rei dos lagartos

© Raúl Martín

    O tiranossauro ("lagarto tirano", do grego tyrannos, "tirano", e sauros, "lagarto") é um grande dinossauro terópode que viveu no fim do período Cretáceo, entre 68 e 66 milhões de anos atrás, no oeste da América do Norte - na época um continente isolado chamado Laramídia. Foi o último membro conhecido do grupo dos tiranossaurídeos e um dos últimos dinossauros não avianos a existir antes da extinção K-Pg. Podia exceder 13 m de comprimento, chegar a 4 m de altura na cintura e pesar 8,87 t. Embora outros terópodes rivalizassem ou mesmo excedessem seu tamanho, o tiranossauro ainda está entre os maiores predadores terrestres que já andaram no planeta.

© Mundo Pré-Histórico
(Baseado na reconstrução de Matt Dempsey, 2021)

    Como outros tiranossaurídeos, era um carnívoro bípede com uma cabeça enorme, equilibrada por uma cauda longa e pesada. Os ossos do crânio eram massivos, alguns fusionados, outros pneumatizados (permeados por pequenos sacos de ar, que ajudavam a reduzir o peso). O crânio era extremamente largo na parte de trás, mas tinha um focinho estreito. Com os olhos voltados para frente, o animal obtinha uma excelente visão binocular de 55° e alta percepção de profundidade. Sua acuidade visual era 13 vezes maior que a humana e ultrapassava a das águias, sendo capaz de distinguir objetos a até 6 km de distância. Os demais sentidos também eram bastante aguçados: a audição era aprimorada para captar sons de baixas frequências, permitindo rastrear movimentos de animais a longas distâncias; o olfato era altamente desenvolvido, comparável ao dos abutres modernos, que detectam carniça de longe; e o focinho era extraordinariamente sensível, baseando-se na grande quantidade de canais neurovasculares nos ossos das maxilas. Isso sugere que o tiranossauro podia perceber diferenças sutis de texturas, temperaturas e movimentos com seu focinho, permitindo-lhe aplicar diferentes estratégias alimentares em diferentes partes de uma carcaça, construir ninhos, arranjar os ovos, apanhar os filhotes e desempenhar outros comportamentos sociais, como comunicação com outros indivíduos.

    Os dentes do tiranossauro eram curvados para trás e tinham área de seção em forma de D; os de cima eram maiores que os de baixo, podendo chegar a 30,5 cm de comprimento, contando a raiz - os maiores dentes de qualquer terópode. Estudos sugerem que os dentes superiores não ficavam expostos quando a boca era fechada, mas cobertos por lábios, que protegiam o esmalte dos dentes contra desidratação. A mordida do tiranossauro era a mais forte entre todos os animais terrestres que já existiram, estimada de 35 a 57 mil newtons de força nos dentes posteriores. Com isso, ele podia esmagar ossos e consumir por inteiro as carcaças de suas vítimas.

Lábios escondiam os dentes do tiranossauro quando sua boca era fechada, segundo os estudos mais recentes.
Crédito: Mark P. Witton, 2023

    Em relação ao tamanho do corpo e às pernas longas e fortes, os braços eram bastante curtos, terminando em dois dedos com garras. Grandes áreas para fixação de músculos nos ossos, contudo, mostram que os braços eram bastante fortes e poderiam ser usados para segurar firmemente as presas enquanto elas eram atacadas pela bocarra do animal. De longe o maior predador de seu ecossistema, o tiranossauro estava no topo da cadeia alimentar, predando hadrossauros, ceratópsios, anquilossauros e, possivelmente, saurópodes. Caçar em grupos poderia ser uma estratégia eficaz para subjugar herbívoros armados e perigosos como o triceratope e o anquilossauro, embora faltem evidências diretas de comportamento gregário para o tiranossauro. Ele, contudo, não devia dispensar carniça.

    Várias estimativas de velocidade já foram produzidas, a maioria estabelecendo um máximo de 32 km/h. Como era uma criatura volumosa e pesada, o tiranossauro não devia correr tão rápido quanto outros terópodes gigantes, como o giganotossauro, entretanto a construção dos ossos dos tornozelos e canelas era adequada para transmitir os esforços físicos recebidos pelos pés e, assim, correr mais eficientemente. As pernas alongadas também ajudavam a economizar energia ao caminhar e procurar por comida. Dessa forma, o tiranossauro parece ser bem adaptado para percorrer longas distâncias e, repentinamente, sair correndo atrás de uma presa.

    Impressões de pele fossilizadas revelam que o tiranossauro era coberto por mosaicos de escamas na cauda, nos quadris e no pescoço. Penas, se estivessem presentes, seriam limitadas à região dorsal do corpo.

    Vários espécimes de tiranossauros juvenis são conhecidos. Análises das estruturas microscópicas dos ossos permitem calcular a idade que esses indivíduos tinham ao morrer e, assim, entender seu desenvolvimento e estimar a expectativa de vida da espécie. Os jovens não passavam de 1.800 kg até os 14 anos de idade, quando iniciavam, porém, uma rápida fase de crescimento. Durante os quatro anos seguintes, eles ganhavam uma média de 600 kg por ano. Aproximadamente aos 18 anos, o crescimento reduzia dramaticamente, e os indivíduos atingiam a maturidade sexual. Depois de se reproduzirem, no entanto, a maioria vivia por mais seis anos apenas.

    Mais de cinquenta espécimes já foram identificados, alguns dos quais são esqueletos quase completos. Inclusive, vasos sanguíneos e tecido ósseo fibroso foram encontrados extraordinariamente preservados dentro de um fêmur fossilizado. A abundância de material fóssil permitiu que pesquisas significativas fossem realizadas sobre vários aspectos de sua biologia, incluindo seu crescimento e biomecânica. Hábitos alimentares, fisiologia e velocidade de deslocamento são assuntos ainda em discussão. Sendo um arquétipo de dinossauro carnívoro, o tiranossauro é um dos dinossauros mais bem conhecidos e populares desde o início do século XX.

    Barnum Brown, curador-assistente do Museu Americano de História Natural, encontrou o primeiro esqueleto parcial de tiranossauro em 1900, no leste de Wyoming, nos Estados Unidos, e um segundo em 1902, na Formação Hell Creek, em Montana, compreendendo aproximadamente 34 ossos fossilizados. Henry Fairfield Osborn, presidente do museu, nomeou o segundo esqueleto como Tyrannosaurus rex em 1905. Rex significa "rei" em latim, enfatizando o tamanho do animal e sua suposta dominância sobre as demais espécies de seu tempo.

    Somente nos anos 1960 houve novas descobertas de fósseis de tiranossauro, resultando na recuperação de 42 esqueletos no oeste da América do Norte, de 5% a 80% completos em contagem de ossos. Os anos 1990 viram o número de espécimes encontrados quase dobrar, incluindo dois dos mais completos já conhecidos: "Sue" e "Stan". O primeiro, descoberto por Sue Hendrickson em 1990, é um dos maiores espécimes de tiranossauro conhecidos e um dos mais bem preservados, com 90% dos ossos.

Classificação científica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Clado: Sauropsida
Clado: Dinosauria
Clado: Saurischia
Clado: Theropoda

Clado: Coelurosauria

Superfamília: †Tyrannosauroidea
Família: †Tyrannosauridae
Subfamília: †Tyrannosaurinae
Gênero: †Tyrannosaurus

Espécie: †Tyrannosaurus rex

Crédito: Max Bellomio, 2021

O espécime "Sue", que mede 12,4 m de comprimento e 4 m de altura na cintura, atingiu seu tamanho adulto aos 19 anos e morreu com 28 anos de idade, a maior expectativa de vida estimada para qualquer tiranossauro. O fóssil encontra-se exposto no Museu Field de História Natural, em Chicago, EUA, desde 2000.
Crédito: Museu Field de História Natural

Fontes: Field Museum, Research UC Berkeley, Terra, USA Today e Wikipedia.