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04 abril 2018

Saurópodes (Sauropoda)

Da esquerda para a direita: Antetonitrus, um dos saurópodes mais antigos, Camarasaurus, Giraffatitan, o gigantesco Argentinosaurus, Nigersaurus e Rapetosaurus, em comparação a um humano.
© Raúl Martín, 2012 / Scientific American

    Sauropoda (do grego "pés de lagarto") é um grupo de dinossauros saurísquios (com "cintura de lagarto"), caracterizados por pescoço e cauda bastante compridos, cabeça pequena em relação ao corpo e membros fortes como colunas. A maioria das espécies distingue-se pelo enorme tamanho que atingiam, algumas delas estando entre os maiores animais de todos os tempos. Foram também um dos grupos de dinossauros mais bem sucedidos e duradouros, tendo vivido do início do Jurássico até o fim do Cretáceo. Fósseis de saurópodes já foram encontrados em todos os continentes, incluindo a Antártida.
    Eram todos herbívoros, quadrúpedes e tinham narinas afastadas da ponta do focinho. Seus fortes membros traseiros terminavam em pés largos com cinco dedos, dos quais apenas os três internos (ou quatro, em alguns casos) eram dotados de garras; os membros dianteiros eram bem mais esguios, com patas estreitas, dedos extraordinariamente diminutos (na maioria dos casos, imperceptíveis em vida) e uma única garra no polegar, cuja função é desconhecida.

Esqueleto de Apatosaurus no Museu Americano de História Natural, em Nova York, EUA.
Mão esquerda (em vistas frontal e traseira) e pé esquerdo de um saurópode diplodocídeo. De acordo com pegadas fossilizadas, a parte de trás dos membros dianteiros não era "almofadada" como uma pata de elefante, mas côncava.
Crédito: Natee Puttapipat

    O corpo maciço desses animais, apoiado em quatro patas, era uma base estável para sustentar o pescoço alongado. A cabeça evoluiu para ser pequena e leve, o que possibilitava desenvolver pescoços com músculos menos densos e ainda mais longos. Este era composto por 12 ou mais vértebras cervicais opistocélicas, isto é, possuíam a face anterior convexa e a posterior côncava. A cabeça reduzida, porém, acabou perdendo capacidade de processar alimento pela boca, e por isso muitas espécies ingeriam também pedras (conhecidas como gastrólitos), para ajudar a moer a vegetação dentro da moela ou tubo digestório.
    Assim como outros saurísquios (aves e outros terópodes), os saurópodes possuíam um sistema de sacos aéreos, evidenciado por meio de entalhes e cavidades ocas na maior parte de suas vértebras. Esses espaços de ar ligados aos pulmões ajudavam a reduzir o peso de seus pescoços imensos e lhes permitiam inalar mais oxigênio. Provavelmente, na maior parte do tempo o pescoço não era mantido totalmente na vertical, porque isso exigiria muito do coração para bombear o sangue até a cabeça e consumiria muita energia.
    Como precisavam ingerir centenas de quilos de plantas por dia, os saurópodes substituíam seus dentes muito frequentemente, em períodos de poucas semanas. São encontrados, basicamente, dois tipos de dentição em saurópodes. O Diplodocus, por exemplo, tinha dentes finos, em forma de prego, e se alimentava principalmente de plantas mais baixas e macias. Dentes mais robustos, com formato de espátula, eram adaptados para mastigar plantas mais duras, como visto no Camarasaurus e no Brachiosaurus. Essa especialização em suas dietas ajudava os diferentes dinossauros herbívoros a coexistir no mesmo espaço.

Diplodocus alimentava-se de samambaias e plantas macias e provavelmente gastava um tempo considerável fermentando o alimento em seu intestino expandido.
Crédito: Phil Wilson

    Várias linhas de evidências fósseis, desde conjuntos de ossos até pegadas, indicam que os saurópodes viviam em grupo. No entanto, a composição desses grupos variava conforme a espécie. Algumas formavam manadas com indivíduos de diferentes idades, porém muitas outras andavam em bandos divididos por faixa etária, com os jovens segregados dos adultos. Isso acontecia, provavelmente, porque a enorme diferença de tamanho entre eles originava diferentes hábitos alimentares e comportamentos. A separação dos pais devia ocorrer logo após o nascimento, uma vez que os filhotes parecem ter sido bastante precoces. Nas espécies que viviam em grupos misturados, por outro lado, os pais deviam cuidar de seus filhotes por um período de tempo estendido.

Muitos saurópodes, como o Alamosaurus da imagem e alguns diplodocídeos, constituíam bandos separados por idade.
© James Kuether

    Ao contrário do que se poderia esperar, os filhotes de saurópodes nasciam de ovos incrivelmente pequenos em relação aos animais adultos. De acordo com estudos de histologia dos ossos, eles cresciam bastante rápido, atingindo a maturidade sexual em torno de dez anos, e continuavam a crescer durante toda a vida. Os ovos, de tamanho um pouco maior do que os de um avestruz, eram botados em grandes colônias, em buracos rasos escavados no chão. Cada ninho continha de 30 a 40 ovos e era coberto por folhas e matéria vegetal, que, ao se decomporem, forneciam o calor necessário para incubá-los.

Um Apatosaurus fêmea põe seus ovos no ninho.
© Mohamad Haghani, 2013
Colônia de nidificação de titanossauros na América do Sul, durante o Cretáceo. O sítio fossilífero de Auca Mahuevo, na Argentina, preserva uma incrível quantidade de ninhos, ovos e embriões intactos de saurópodes, esclarecendo aspectos importantes do ciclo de vida desses animais.
Crédito: Mark Hallett
© Stocktrek Images, Inc. / Alamy Stock Photo

Evolução


Vulcanodon é um dos saurópodes mais primitivos que se conhece. Viveu no início do Jurássico, no sul da África, mas já apresentava a forma básica do corpo dos saurópodes.
Crédito: Cisiopurple

    Os primeiros saurópodes surgiram no início do período Jurássico, cerca de 200 milhões de anos atrás, e descendem de sauropodomorfos relativamente pequenos, que pesavam em torno de 1 t. O aumento de tamanho pode ter sido uma estratégia para evitar predadores. A estrutura corporal das diferentes espécies não variava tanto como em outros tipos de dinossauros, talvez por limitação do grande porte, mas ainda assim os saurópodes apresentavam uma ampla variedade de formas. No final do Jurássico, cerca de 150 milhões de anos atrás, eles atingiram seu apogeu de diversidade.

O diplodocídeo Supersaurus (aqui sendo atacado por um Torvosaurus) chegava a 34 m de comprimento, sendo o saurópode mais extenso conhecido por restos razoavelmente completos.
Crédito: Luis V. Rey

    Os diplodocídeos (família Diplodocidae) tinham caudas excessivamente compridas e finas, que podem ter sido usadas como um chicote para se defender de predadores ou produzir estalos para se comunicar. Seus pescoços também eram bastante compridos, fazendo com que alguns diplodocídeos estejam entre as criaturas mais longas que já existiram - Diplodocus e Supersaurus mediam mais de 30 m de comprimento. Eles parecem ser os únicos saurópodes capazes de erguer-se em duas patas, pois seu centro de massa localizava-se diretamente sobre os quadris, dando um maior equilíbrio sobre as patas traseiras. Ademais, as vértebras da cauda tinham um formato especializado que ajudaria como apoio.

Camarasaurus (à esquerda), Brachiosaurus (ao centro) e Diplodocus (à direita) compartilharam o mesmo habitat na América do Norte do final do Jurássico.
Crédito: Jan Sovak, 2014

    Os braquiossaurídeos (família Brachiosauridae) surgiram em meados do Jurássico e distribuíram-se pelos continentes do norte e do sul até o final do mesmo período. Eram bastante altos, com ombros elevados, e podiam erguer o pescoço para comer do topo das árvores. Seus dentes eram espatulados e a garra da pata dianteira era bastante reduzida, ou mesmo ausente em alguns deles.

O Sauroposeidon, atualmente classificado em um ramo entre os braquiossaurídeos e os titanossauros, foi provavelmente o dinossauro mais alto, atingindo até 18 m de altura.
Crédito: Jan Sovak

    No Cretáceo Superior, tais grupos foram sendo substituídos pelos titanossauros (Titanosauria), que chegaram a uma distribuição quase global. Estes incluem alguns dos animais mais volumosos que já existiram. Infelizmente, enquanto os paleontólogos já identificaram dezenas de gêneros de titanossauros ao redor do mundo, a falta de fósseis articulados e a raridade de crânios intactos significam que muito a respeito dessas criaturas ainda é envolvido em mistério.
    Muitos, como Saltasaurus e Ampelosaurus, tinham pequenos calombos ósseos (osteodermes) em alguns pontos da pele, para proteção contra predadores. Titanossauros parecem ter perdido completamente a garra da pata dianteira; os mais avançados nem chegavam a ter dedos ou falanges nas mãos e andavam sobre "tocos" em forma de ferradura, compostos pelos ossos do metacarpo. As melhores evidências indicam que os titanossauros Argentinosaurus, Puertasaurus e Alamosaurus foram os animais mais pesados que já caminharam sobre a Terra, podendo ultrapassar 70 toneladas.

Filhote de Homo sapiens ao lado da pata dianteira do titanossauro Patagotitan (repare na ausência de dedos), exposto no Museu Americano de História Natural, Nova York.
© Oliver Berg / EPA / Corbis
Argentinosaurus é considerado o maior dinossauro e, por extensão, o maior animal terrestre que já existiu.
Crédito: Mohamad Haghani

Saurópodes "anões"


O saurópode Europasaurus e seu filhote passeiam por uma costa jurássica, na companhia de alguns iguanodontes. Em primeiro plano, vemos dois Compsognathus e um Archaeopteryx.
Crédito: Gerhard Boeggemann

    Enquanto muitos saurópodes atingiam proporções colossais, outros podem ser considerados quase anões, pois mediam apenas alguns metros de comprimento quando adultos. Entre os menores saurópodes de que se tem notícia estão o primitivo Ohmdenosaurus (4 m), os titanossauros Magyarosaurus e Paludititan (com 6 m) e o braquiossaurídeo Europasaurus (6,2 m). Sua estatura menor é resultado, provavelmente, de um fenômeno conhecido como nanismo insular, que agiu sobre populações isoladas em ilhas europeias do final do Jurássico. Ao longo de gerações, essas espécies acabaram se tornando menores como uma resposta evolutiva à disponibilidade reduzida de alimento no ambiente em que viviam.

© Fabio Pastori, 1999

16 comentários:

  1. Show, tbm sempre gostei. Parabéns.

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  2. Felipe, você poderia falar do novo clado que foi proposto em 2017, o Ornithoscelida.

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    1. Sim, ainda tenho coisas para falar sobre a classificação dos dinossauros, como saurísquios, ornitísquios e este novo clado proposto.

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  3. Vitor Fernando11/11/20

    Muito interessante!!!

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  4. Artigo rico em informações. Parabéns!

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  5. Anônimo30/4/23

    Material excelente, muito obrigada por compartilhar seus saberes conosco.

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  6. Anônimo8/3/24

    Cadê o brontossaurus?

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    1. Ele não foi mencionado aqui, mas ainda vou falar sobre ele!

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    2. Anônimo17/7/24

      E o Patagotitan?

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  7. Isadora Batista14/9/24

    Muito interessante e completo o artigo! Obrigada pelas informações. Vocês teriam alguma bibliografia para indicar? Alguma espécie de enciclopédia..

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    1. Olá, Isadora! Que bom que gostou. Eu conheço somente a "Enciclopédia dos dinossauros e da vida pré-histórica", mas na internet você encontra várias outras à venda.

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