Velocirraptor, a ave de rapina do Cretáceo

Velocirraptor e dois Gobipteryx.
Crédito: Lucas Attwell, 2020

Atualizado em fevereiro de 2021

    O velocirraptor ("ladrão veloz", do latim velox, "veloz", e raptor, "ladrão") é um dinossauro terópode dromeossaurídeo que viveu no final do período Cretáceo, de 75 a 70 milhões de anos atrás (final da idade Campaniana ao início da Maastrichtiana), na região central da Ásia - na época, um ambiente árido coberto por dunas de areia e rios intermitentes. Era um predador ativo e ágil, que atacava pequenos mamíferos, répteis, aves e dinossauros menores, mas também se alimentava de carcaças oportunamente. De tamanho médio, atingia 2,1 m de comprimento, 50 cm de altura nos quadris e 15 a 20 kg.

© Mundo Pré-Histórico
(Baseado na reconstrução de Scott Hartman, 2006)

    Apesar de ser menor que outros dromeossaurídeos, como o deinonico e o Achillobator, o velocirraptor compartilha muitas de suas características anatômicas. Era um carnívoro bípede e emplumado, com uma cauda comprida e uma grande garra raptorial, típica dos dromeossaurídeos e troodontídeos. Ainda assim, pode ser distinguido pelo crânio longo e baixo - que podia medir até 25 cm de comprimento -, com um focinho curvado para cima. As maxilas, relativamente fracas, eram delineadas por 26 a 28 dentes em cada lado, bem espaçados e serrilhados, com serrilhas mais profundas em suas bordas traseiras. Capaz de detectar uma ampla gama de frequências sonoras e dotado de um excelente olfato (segundo análises do endocrânio), o velocirraptor podia rastrear presas com facilidade. O tamanho dos anéis escleróticos, anéis ósseos que suportam os olhos, indica que ele tinha hábitos noturnos.

Reconstrução de esqueleto de velocirraptor no Museu Jornada dos Dinossauros, em Fruita, Colorado, EUA.
Crédito: Jens Lallensack, 2016

    As mãos do velocirraptor eram grandes e possuíam três dedos - o primeiro dígito era o menor, e o segundo, o maior - com garras curvadas, de construção e flexibilidade semelhantes às dos ossos das asas de aves modernas. A estrutura dos ossos carpais (do pulso) impedia que as mãos fossem rotacionadas para baixo (movimento de pronação); assim, elas tinham que ser mantidas com as palmas para dentro. Vestígios de pequenas protuberâncias (papilas ulnares, pontos de fixação de penas) nos ossos do antebraço provam que o velocirraptor tinha rêmiges, penas das asas, de aspecto já bastante moderno. Ele não podia voar, devido a suas asas serem curtas em relação ao corpo, porém as penas podem ter servido para outros propósitos, como atrair parceiros, mantê-lo aquecido, cobrir o ninho ao chocar os ovos ou aumentar a velocidade e o impulso quando corria por terrenos em aclive. Com pernas alongadas e musculosas, poderia atingir cerca de 40 km/h. A cauda comprida e rígida agia como um leme, ajudando-o a mudar de direção.

    Nos pés, como em outros terópodes, o primeiro dígito era vestigial, mas os dromeossaurídeos, incluindo o velocirraptor, têm a particularidade de apoiarem-se em apenas dois dedos. O segundo dígito era altamente modificado e mantido retraído, alto do chão, portando uma grande garra em forma de foice. Esta garra, que podia passar de 6,5 cm de comprimento em sua curvatura externa, não parece ter sido afiada o suficiente para cortar carne e estripar vítimas, mas funcionaria bem para perfurar. Por causa de diversas semelhanças anatômicas com as aves de rapina existentes, especialmente as proporções das pernas e dos pés, acredita-se que o velocirraptor saltava sobre sua presa e fincava nela suas garras curvas para segurá-la, enquanto se alimentava do animal ainda vivo. Seus braços eram capazes de exercer bastante força, mas, cobertos de penas, também podiam ser abanados para equilibrá-lo sobre a refeição que se debatia, juntamente com a cauda servindo de contrapeso. Essas adaptações, em conjunto, podem estar relacionadas à origem do bater das asas em dinossauros paravianos (Paraves).

Fóssil do pé de um velocirraptor exibindo o segundo dedo erguido, onde localiza-se a garra maior. Embora pontiaguda, sua borda interna não era muito afiada.
Crédito: Alfonso Fabio Iozzino, 2013 / Alamy Stock Photo

Dois velocirraptores atacam um protoceratope, enquanto dois Kryptobaatar dashzevegi, mamíferos multituberculados, assistem curiosamente à batalha. Como evidenciado por fósseis, o dromeossaurídeo usava sua grande garra do pé para perfurar partes vitais da vítima, como o pescoço. Entretanto, ao contrário da crença popular, não há evidências de que ele agisse em grupo, de maneira cooperativa. Em vez disso, análises em fósseis de deinonico sugerem que os membros dessa família caçavam sozinhos. Vários indivíduos poderiam até investir contra a mesma presa, como os crocodilos e dragões-de-komodo fazem, mas não em ataques coordenados.
Crédito: Helmert Ravenhorst, 2017

    Durante uma expedição do Museu Americano de História Natural ao Deserto de Gobi, na Mongólia, em 1923, Peter Kaisen encontrou o primeiro fóssil de velocirraptor conhecido da Ciência: um crânio esmagado, mas completo, associado a uma das garras raptoriais (a qual acreditava-se que era da mão). No ano seguinte, o paleontólogo Henry Fairfield Osborn designou os dois elementos como holótipo do novo gênero Velociraptor e da espécie Velociraptor mongoliensis. De 1963 a 1971, cientistas soviéticos, poloneses e mongóis recuperaram vários outros fósseis, o mais famoso deles sendo o espécime conhecido como "Dinossauros Lutadores", que preserva um velocirraptor lutando com um protoceratope. Entre 1988 e 1990, uma equipe sino-canadense encontrou vestígios no norte da China e, em 1990, uma expedição mongol-americana descobriu diversos esqueletos bem preservados de V. mongoliensis. Uma segunda espécie, Velociraptor osmolskae (homenagem à paleontóloga polonesa Halszka Osmólska), foi batizada por Pascal Godefroit e colegas, em 2008, a partir de material de um crânio encontrado por pesquisadores chineses e belgas na Mongólia Interior, China, em 1999.

Classificação científica:

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Clado: Sauropsida

Clado: Dinosauria

Clado: Saurischia

Clado: Theropoda

Família: †Dromaeosauridae

Subfamília: †Velociraptorinae

Gênero: †Velociraptor

Espécies: †Velociraptor mongoliensis e †V. osmolskae

Crédito: Ahrkeath, 2009

Os "Dinossauros Lutadores" são tesouro nacional da Mongólia, mantido no Museu Central de Dinossauros Mongóis, na capital Ulan Bator. Descoberto em 1971, o exemplar preserva dois dinossauros envolvidos num combate dramático. A garra do pé do velocirraptor está enterrada na garganta do protoceratope, enquanto seu braço direito é esmagado pelo bico do herbívoro. Apesar de não haver dúvidas de que os dois animais estavam lutando, não é possível saber o motivo ou quem começou a briga. Aves e crocodilos modernos (seus parentes vivos mais próximos) dificilmente atacam animais maiores que eles para se alimentarem, e o protoceratope era um oponente desafiador, que pode ter ele mesmo partido para a ofensiva ao se sentir intimidado.

O velocirraptor devia se alimentar majoritariamente de animais pequenos, como o mamífero Zalambdalestes, também encontrado na Formação Djadochta, na Mongólia. No entanto, não dispensaria carcaças de animais maiores quando as encontrasse.
Crédito: Emily Willoughby, 2013

Fontes: DinosVirtuais, Live Science, National Geographic, Natural History Museum e Wikipedia.